quarta-feira, 19 de março de 2014

"Um acre de verde", de W.B. Yeats

"Restam quadros e livros,
Um acre verde de erva
Para ar e exercício,
Agora que o corpo se esgota;
Meia-noite, uma velha casa
Onde apenas se move um rato.

Calou-se a minha tentação.
Aqui, no fim da vida,
Nem a liberta imaginação,
Nem o moinho do pensamento
Seus desperdícios consumindo,
Podem revelar a verdade.


Concedei-me a exaltação de um velho;
Eu próprio devo refazer-me
Transformar-me em Timon ou Lear
Ou naquele William Blake
Que golpeou o muro
Até acudir-lhe a Verdade.

A mente, soube-o Miguel Ângelo,
Pode as nuvens trespassar,
Ou inspirada pela inquietação
Agitar os mortos em suas mortalhas;
Tudo o mais esquecido pelo homem,
Eis a mente de águia de um ancião."

(Do livro Uma antologia, tradução de José Agostinho Baptista, publicado pela Assírio & Alvim, Lisboa.)

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