sábado, 28 de junho de 2014

Um poema de Bruno Tolentino

"O coração, enfermo porque vive
do que morre, debruça-se à janela,
vê a luz desertando-o no declive
entre a vida e a paixão do ser por ela,
   e comovido vai compor a tela
em que a reduz para retê-la. Eu tive
essa mesma ilusão, compus a bela
equação passional da mente livre
   e pus meu coração nesse vazio.
Mas falhei. Ele nunca permitiu
o oásis ilusório na epiderme
   sensível do real. Eu tinha um verme
no coração, que foi roendo o fio
da ilusão e acabou por socorrer-me."

(De O mundo como ideia, publicado pela Editora Globo.)

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