segunda-feira, 28 de julho de 2014

"Annabel Lee", de Edgar Allan Poe

"Há muitos, muitos anos, existia
 num reino à beira-mar, em que vivi,
uma donzela, de alta fidalguia,
chamada Annabel Lee.
Amava-me, e seu sonho consistia
em ter-me sempre para si.

Eu era uma criança, ela era uma criança
no reino à beira-mar, em que vivi.
Mas tanto o nosso amor ultrapassava
o próprio amor, que até senti
os serafins celestes invejarem
a mim e a Annabel Lee.

Por isso mesmo, há muitos, muitos anos,
no reino à beira-mar, em que vivi,
gélido, de uma nuvem, veio um vento
matar Annabel Lee.
E seus nobres parentes se apressaram
em tirá-la de mim; encerrarem-na vi
num sepulcro bem junto ao mar, que chora
eternamente ali.

Foi inveja dos anjos; mais felizes
éramos nós aqui.
Sim, foi por isso (como todos sabem
no reino à beira-mar, em que a perdi)
que veio um vento, à noite, de uma nuvem
matar Annabel Lee.

Mas nosso amor, imenso, era mais forte
do que o tempo e que a morte,
do que a própria esperança em que o envolvi.
E nem anjos celestes nas alturas,
nem demônios dos mares abissais
jamais minha alma afastarão, jamais,
da bela Annabel Lee.

Pois, quando surge a lua, em meus sonhos flutua,
no luar, Annabel Lee.
E, quando se ergue a estrela, o seu fulgor revela
o olhar de Annabel Lee.
E junto a ela eu passo, assim, a noite inteira,
junto àquela que adoro, a esposa, a companheira,
na tumba, à beira-mar, do reino em que vivi,
junto ao mar que por ti
soluça eternamente Annabel Lee."

(Tradução de Oscar Mendes, extraído de Obras completas, publicação da Companhia Aguilar Editora.)

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