sexta-feira, 17 de outubro de 2014

"Amor de tarde", de Mario Benedetti

"É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são quatro
e termino a planilha e penso dez minutos
e estico as pernas como todas as tardes
e faço assim com os ombros para relaxar as costas
e estalo os dedos e arranco mentiras.

É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são cinco
e eu sou uma manivela que calcula juros
ou duas mãos que pulam sobre quarenta teclas
ou um ouvido que escuta como ladra o telefone
ou um tipo que faz números e lhes arranca verdades.

É uma pena você não estar comigo
quando olho o relógio e já são seis.
Você podia chegar de repente
e dizer 'e aí?' e ficaríamos
eu com a mancha vermelha dos seus lábios
você com o risco azul do meu carbono."

(De Antologia poética, tradução de Julio Luís Gehlen, publicação da Editora Record.)


Nenhum comentário:

Postar um comentário