sexta-feira, 31 de outubro de 2014

"Juana aos quarenta e dois", de Eduardo Galeano

"Lágrimas da vida inteira, brotadas do tempo e da pena, empapam a sua cara. No fundo, no triste, vê nublado o mundo. Derrotada, diz adeus.
   Vários dias durou a confissão dos pecados de toda a sua existência frente ao impassível, implacável padre Antonio Núfiez de Miranda, e todo o resto será penitência. Com tinta de seu sangue escreve uma carta ao Tribunal Divino, pedindo perdão.
   Já não navegarão suas velas leves e suas quilhas graves pelo mar da poesia. Sor Juana Inês de la Cruz abandona os estudos humanos e renuncia às letras. Pede a Deus que lhe dê como presente o esquecimento e escolhe o silêncio, aceita-o, e assim perde a América sua melhor poetisa.
   Pouco sobreviverá o corpo a este suicídio da alma. Que se envergonha a vida de durar-me tanto..."

(Do livro Mulheres, tradução de Eric Nepomuceno, publicado pela L&PM.)

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