quarta-feira, 1 de julho de 2015

"Gotán", poema de Juan Gelman

"Esta mulher se parecia à palavra nunca,
da nuca lhe subia um encanto particular,
uma espécie de esquecimento onde guardar os olhos,
esta mulher se instala no meu costado esquerdo.

Atenção, atenção, eu gritava atenção,
mas ela invadia como o amor, como a noite,
os últimos sinais que fiz para o outono
deitaram-se tranquilos com as ondas de suas mãos.

Dentro de mim estalaram ruídos secos,
caíam em pedaços a fúria, a tristeza,
a senhora chovia docemente
sobre meus ossos de pé na solidão.

Quando se foi eu tiritava como um condenado
com um punhal brusco me matei,
vou passar toda a morte deitado com seu nome
ele moverá minha boca pela última vez."

(De Poetas da América de canto castelhano, tradução de Thiago de Mello, publicação da Global Editora.)

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