quinta-feira, 29 de outubro de 2015

23h48

Não posso mais continuar adiando o projeto de fechar definitivamente a loja. Digo projeto para não dizer necessidade. Mesmo para um insano, como eu, é inconcebível abrir diariamente a porta e esperar que alguém entre para ver aqueles objetos que, de uma forma ou de outra, se relacionam todos com o amor. Amor... Hoje, quando se pronuncia essa palavra, os educados sorriem, enquanto os outros gargalham: que patacoada é essa? Posso eu argumentar que essa patacoada, com suas quatro mirradas letras, matou outrora milhões de adeptos? Posso eu declarar-me ainda um seguidor de uma causa que me asseguram estar morta? Por que eu não morri com ela, com as quatro mirradas letras nos lábios? Ah, Orhan Pamuk, será que só você ainda se atreve a advogar em nome de um sentimento tão destroçado pela chacota?

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