sábado, 16 de janeiro de 2016

"O poeta pede a seu amor que lhe escreva", de García Lorca

"Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de mordiscos e açucenas.

Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura."

(De Sonetos do amor obscuro e divã do Tamarit, tradução de William Agel de Mello, edição da Folha de S. Paulo.)

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