segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Sozinha

Está sozinha há muito tempo. Deve ser por isso que repentinamente, hoje cedo, se pegou beijando as costas da mão como se ali fosse a boca de alguém. Tinha acabado de tomar  o café. No início sorriu, como uma garota fazendo uma travessura, mas alguma recordação íntima havia despertado nela, e no momento seguinte estava passando a língua na palma salgada. Começou a sussurrar amor, e logo se ouviu dizendo alto amor, amor. Tinha se levantado da cadeira, estava de pé no meio da cozinha e lambia agora a face interna do braço. Dava duas ou três lambidinhas lentas e ia dizendo amor, amor, amor, cada vez mais alto. Quando as pernas se puseram a tremer ela parou, retesou-se, esfregou uma coxa na outra e, porque já não dizia mas gritava amor, ligou o liquidificador e estremeceu com ele ensurdecedoramente.

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