quinta-feira, 6 de outubro de 2016

A hora que não chega

Hoje, bateu-lhe a tentação de usar palavras solenes, doravantes, outrossins, porquantos, por conseguintes. Talvez a lição que aprendeu sobre a simplicidade não valha mais. Tudo muda. É bem possível que respeitem mais seus textos se eles assumirem um ar clássico. Quem sabe parágrafos mais longos, com orações mais meticulosamente ligadas. Ou a reabilitação do ponto e vírgula e, até, num estágio seguinte, das olvidadas reticências. Alguma coisa ele precisa fazer, isso é certo. Hoje, todas as décadas de resignação resolveram pesar-lhe nos ombros. Quem, além dele, aceitaria esperar tanto pelo reconhecimento? A última referência a um livro seu é de agosto de 2010. Ele já era o velho que é. Foram vinte linhas, num pé de página. Ele sorri (!) ao se lembrar da última frase da resenha: "Um talento jovem, uma promessa da poesia brasileira."

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