quinta-feira, 24 de novembro de 2016

"Gertrude subindo a escada, 1943", de Charles Bukowski

"penso em Gertrude subindo aquela escada
em St. Louis
há muitos anos
e eu bem atrás dela
um garoto ainda.
penso em Gertrude subindo aquela escada
em St. Louis
e nenhuma escada tão promissora quanto
aquela
com as imagens de Jesus da proprietária
recortadas de revistas baratas
pragadas aqui e ali
pelas paredes.
penso em mim mesmo subindo aquela escada
em St. Louis
atrás da Gertrude
e a caminho de seu quarto
entrando lá
a porta fechando firme atrás de nós
ela servindo o claret
em taças altas e finas
naquela pensão sombria
perto daquele parque enorme
com suas árvores desfolhadas do inverno.
parada naquele lugar
Gertrude parecia tão adorável
tão perfeita
uma jovem além da mera juventude
uma imagem envolta em um sonho
perfeito
e enquanto
estava parada lá na minha frente
finalmente ela ficou
perfeita demais:
eu virei meu claret e pedi licença pra
sair
sabendo que
seguir Gertrude até o alto daquela escada
em St. Louis
por si só
já bastava
esse foi
o nosso grande momento juntos
e tudo o que se seguiu
seria menos
menos
e eu queria me lembrar dela desse
jeito: em seu momento perfeito
antes que ela se cansasse do jogo e
nós um do
outro."

(De Amor é tudo que nós dissemos que não era, tradução de Fernando Koproski, edição da 7 Letras.)



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