domingo, 19 de fevereiro de 2017

Três trechos de Henri-Frédéric Amiel

"Não é que eu negue o direito da democracia; mas não tenho ilusão sobre o emprego que ela fará do seu direito enquanto rara for a sabedoria e abundante o orgulho. O número faz a lei, mas o bem nada tem que ver com a cifra. Toda ficção se expia, e a democracia repousa nesta ficção legal, de que a maioria tem não somente a força, mas a razão, que ela possui a sabedoria ao mesmo tempo que o direito. Ficção perigosa porque é lisonjeira. Os demagogos sempre afagaram o sentido íntimo das massas, como se amima um gato a que se quer agradar. As massas serão sempre inferiores à média."

"Atrás da beleza superficial, alegre, radiante, palpável, a estética descobre toda uma ordem de beleza oculta, velada, secreta, misteriosa, parente da beleza moral. Essa beleza não se revela senão aos iniciados, e por isso, precisamente, é mais suave. É algo assim como o gozo refinado do sacrifício, como a loucura da fé, como a volúpia das lágrimas; não está ao alcance de todo o mundo."

"O mundo humano só interessa pelas minúcias; pelo conjunto é desolador e fatigante. Quanto mais o conhecemos, mais nos gela o entusiasmo.Somente as almas de escol, os nobres caracteres, nos reconciliam com esta desagradável turba e esta lamentável história."

(De Diário íntimo, tradução de Mário Ferreira dos Santos, edição da É Realizações.)

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