quarta-feira, 14 de junho de 2017

Um soneto de Pablo Neruda

"Diego Rivera com a paciência do osso
buscava a esmeralda do bosque na pintura
ou o vermelhão, a flor súbita do sangue,
recolhia a luz do mundo em teu retrato.

Pintava o imperioso talhe do teu nariz,
a centelha de tuas pupilas desbocadas,
tuas unhas que alimentam a inveja da lua,
e em tua pele estival, tua boca de melancia.

Te pôs duas cabeças de vulcão acesas
por fogo, por amor, por estirpe araucana,
e sobre os dois rostos dourados da greda

te cobriu com o casco de um incêndio bravio
e ali secretamente ficaram enredados meus olhos
em tua torre natal: tua cabeleira."

(De Cem sonetos de amor, tradução de Carlos Nejar, L&PM.)

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